domingo, 19 de outubro de 2008

Realidade onírica (e vice-versa)

"Na realidade, a realidade não existe. Não há diferença: quer tu durmas ou não durmas, é a mesma coisa, é sonho."

O que nos separa do mundo dos sonhos? Como reconhecer a realidade? Sentidos? Materialidade? Não estão estes também presentes em sua experiência onírica? Não fazem dela um universo tão real quanto o... quanto a... Afinal, onde está o ladodecá e o ladodelá? Se o que nos separa é o ato de acordar, devíamos então nos ocupar em descobrir onde fomos parar  em meios a tantos e tantos despertares...

"Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,

Mas, quando dispertei da confusão,

Vi que esta vida aqui e este universo

Não são mais claros do que os sonhos são

Obscura luz paira onde estou converso

A esta realidade da ilusão

Se fecho os olhos, sou de novo imerso

Naquelas sombras que há na escuridão.

Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,

É a mesma mistura de entre-seres

Ou na noite, ou ao dia transferida.

Nada é real, nada em seus vãos moveres

Pertence a uma forma definida,

Rastro visto de coisa só ouvida".

(Fernando Pessoa, 28-9-1933)

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