domingo, 19 de outubro de 2008

"Viver no presente, dizem. O poder do agora, dizem. A importância do momento, dizem. Mas o que é o presente? Onde está o agora? Que é do momento? No instante em que você chegar ao fim desta frase, o momento em que iniciou a leitura já terá passado. E mesmo isto é uma simplificação. O passado engole o momento letra a letra, segundo a segundo. O presente não existe, a não ser como ponto de um escoamento vertiginoso, uma hemorragia do tempo, em que um futuro potencial se converte incessantemente num passado virtual, que só existe na memória. O presente é esse espaço de conversão, de transmutação até, mas um espaço utópico, uma vez que não pode ser precisamente localizado em lugar nenhum. Estou aqui, mas não agora, porque o agora não está mais aqui, o agora se deslocou, ou então nunca esteve a não ser sob a forma desse deslocamento contínuo, elusivo, indefinível. É o movimento mercurial de um agora inexistente que engendra histórias, as minhas histórias, que mal e mal aglutino sob o nome de vida, as histórias do mundo, que desafiam as aglutinações dos historiadores, a história do universo, que produzo ao percebê-lo, mas a soma de histórias só se deixa engendrar porque não está mais aqui quem falou".

(texto de malprg.blogs.com/francoatirador)

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