
“O carteiro e o poeta” é uma obra sobre poesias, tanto aquelas escritas quanto as vivenciadas, em uma descarada homenagem à poética por vezes escondida no cotidiano, que lateja apenas aos olhares mais sensíveis.
(Livraria Naftalina)
- Desculpe, Don Pablo. Eu só queria dizer que também gostaria de ser poeta.
- Não, é mais original ser um carteiro...tens que andar muito e não ficas gordo.
Nós poetas somos todos gordos.
- Sim, mas... com a poesia... eu poderia fazer as mulheres apaixonarem-se por mim.
Como...como é que se chega a poeta?
- Tenta caminhar lentamente pela costa até à baía... e olha à tua volta.
- E as metáforas virão ter comigo?
- Certamente.
*************************
- O que está a fazer?
- Estou a pensar.
- Com a janela aberta?
- Sim, com a janela aberta
- Fale para mim. O que foi que
ele disse?
- Metáforas.
- Metáforas?
- Nunca tinha ouvido você falar assim antes.
- Que metáforas ele fez para você?
- Fez? Ele disse!Disse que meu sorriso se espalha como
borboletas.
- E então?
- Eu ri quando ele disse isso. “Seu riso é uma rosa...
uma lança descoberta,é o bater das águas. Seu riso é uma onda prateada repentina”.
- E o que você fez?
- Fiquei quieta.
- E ele? O que mais ele disse? Não, o que ele fez? Seu
carteiro, além de uma boca ele tem duas mãos!
- Ele nunca me tocou. Ele disse estar feliz ao lado de uma jovem pura.
“Era como estar à orla de um oceano branco.
Gosto quando fica em silêncio porque é como se estivesse
ausente".
- E você? E ele?
- Ele também me olhou, e então parou de me me olhar nos
olhos... e começou a olhar para os meus cabelos...
sem dizer nada, como se estivesse pensando.
- Chega, minha criança!
- Quando um homem começa a lhe tocar com palavras não está
longe de lhe tocar com as mãos.
- Não tem nada de errado com as palavras.
- Palavras são as piores coisas que existem.
- Eu prefiro um bêbado no bar tocando seu traseiro do que alguém
que lhe diz "Seu sorriso voa como uma borboleta!"
- É "espalha-se" como uma borboleta!
Nenhum comentário:
Postar um comentário