quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Em pauta: a nossa suja realidade

Após ler um texto no blog de um amigo acerca da nossa revolta frente a uma violência incontrolada vivida nos dias atuais, resolvi refletir humildemente sobre um assunto que se apresenta tão complexo aos nossos olhares pessoais. 
Eu posso até me comover com a história do Sandro - é fato que chorei em Ônibus 174 (José Padilha) e me senti péssima por ter odiado o "bandido" na época da transmissão televisiva do episódio - posso encher-me de revolta frente à falta de compreensão mútua inerente ao ser humano, posso chamar todos os meus parentes e amigos de egoístas ao presenciar uma conversa do tipo "esses trombadinhas desgraçados, bando de vagabundos!", eu posso um monte de coisas... Posso abrir uma ong de apoio social, posso levar sopinha e cobertor para os moradores de rua, posso pensar que essas ações são pura hipocrisia e só funcionam no sentido de limpar minha consciência e fazer com que eu  me sinta um pouco menos culpada por tudo isso. E posso pensar como Sérgio Bianchi que a resolução desses problemas é Cronicamente Inviáviel. 
Eu posso estudar, me tornar Doutora e aprender a criticar as falhas da sociedade, mas com isso, fazer muito menos do que a senhora da ong que levou a sopa ao menino de rua. Ela pode ter matado a fome de alguém enquanto eu alimento a minha vaidade com palestras e livros publicados. E eu posso achar piegas o que acabei de escrever e até pensar: "E daí se ela matou a fome dele? Nada mudou na situação social em que ele se encontra". Afinal de contas eu realmente posso pensar isso baseada em uma série de índices e cálculos, inclusive o fato de eu não saber o que significa sentir fome - a não ser nos meus dias de dieta para o verão - não influem em nada no meu processo crítico!
E depois de pensar que posso pensar tudo isso, penso que não me sinto no direito de pensar assumindo um lugar de defesa específico. Sim, podem me chamar de covarde e dizer que essa é uma postura cômoda demais. E, para aqueles que quando se vêem nessa situação fazem a bela proeza de jogar a culpa em Deus...definitivamente não pretendo me aprofundar numa questão também complexa sobre livre arbítrio e toda aquela história de que se Deus interferisse em tudo - como alguns querem e acham que seria "justo" - certamente estes mesmos diriam mais tarde: "Droga de vida essa nossa! Não podemos nem aprender com nossos erros, vivemos uma ditadura divina! Esse cara aí se mete em tudo, nunca nos deu nada por completo, mentiu quando disse que entregaria o mundo em nossas mãos".
Somos orgulhosos demais para assumir a culpa, aliás esse tal Deus aí deveria ter nos criado apenas com a possibilidade de fazer o bem ("bem" este que não existiria se não houvesse a possibilidade de praticar o mal). Engraçado admirarmos tanto a dialética, até que ela não pise no nosso calo!
E para os diretores que fizeram obras magníficas como Ônibus 174, meu humilde apreço, acredito sim que o cinema tem que nos fazer pensar, tem que denunciar, tem que gerar consciência crítica. É lindo vê-lo educando e atuando socialmente. 
Entretanto, sinto lhes dizer caros diretores, que quando uma arma fôr apontada para a cabeça de uma das filhas de vocês, certamente não dirão "pobre homem, não teve chances na vida!"... Nessa hora meus amigos, adeus reflexão, adeus consciência social, bem vindos à lei da selva!

3 comentários:

Alice disse...

Olá !! ... adorei sua visita e vim conhece-la, e posso te dizer : me encantei com seu blog ! Parabens pelos textos e pela contrução de palavras com um conteúdo tão bacana e singular !!

estou add vc aos meus favoritos para nãoperde-la de vista !

uma linda semana pra vc

TB disse...

Olá!
Gostei do seu blog. Principalmente por ter uma pegada de cinema.
Fique a vontade pra citar os meus modestos textos quando quiser. Confio em sua articulação com as palavras. Qualquer dúvida, pode me adicionar no MSN: tigobronzatto@hotmail.com
Beijos,
Thiago

Leandro Afonso Guimarães disse...

óia quem eu encontro por aqui. cheia de textos já, e sem ter falado nada da existência do filho - blogue (como dizem os tugas).

pô, sara, já vi trocentas coisas legais, inclusive kieslowsky - que deveria ser ressucitado, por mais que ele achasse que não iria mais dirigir antes de morrer.

enfim, depois vou ler com calma esses posts. =)

[cuidado. hj em dia, pra não terminar um dependente físico de lojas virtuais (americanas, 2001, saraiva e afins), hj em dia só compro o que sei que vou comprar e rever. ou tento fazer assim.

ps importante: inútil dizer que não consigo. :/
aeuhaeaeuhea]